sexta-feira, 22 de outubro de 2010

PORTUGUÊS 5º ANO 12... INTERPRETAÇÃO DE TEXTO " PLEBISCITO"

PLEBISCITO
(Artur Azevedo)
1. A cena passa-se em 1890.
2. A família está toda reunida na sala de jantar.
3. O senhor Rodrigues palita os dentes, repimpado numa cadeira de balanço. Acabou de comer como um abade.
4. Dona Bernardina, sua esposa, está muito entretida a limpar a gaiola de um canário belga.
5. Os pequenos são dois, um menino e uma menina. Ela distrai-se a olhar para o canário. Ele, encostado à mesa, os pés cruzados, lê com muita atenção uma das nossas folhas diárias.
6. Silêncio.
7. De repente, o menino levanta a cabeça e pergunta:
8. – Papai, o que é plebiscito?
9. O senhor Rodrigues fecha os olhos imediatamente para fingir que dorme.
10. O pequenos insiste.
11.– Papai?
12. Pausa.
13. – Papai?
14. Dona Bernardina intervém:
15.– Ó seu Rodrigues, Manduca está lhe chamando. Não durma depois do jantar que lhe faz mal.
16.O senhor Rodrigues não tem outro remédio senão abrir os olhos.
17.– Que é? Que desejam vocês?
18. – Eu queria que papai me dissesse o que é plebiscito.
19. – Ora essa, rapaz! Então tu vais fazer doze anos e não sabes ainda o que é plebiscito?
19. – Se soubesse não perguntava.
20. O senhor Rodrigues volta-se para dona Bernardina, que continua muito ocupada com a gaiola:
21. – Ó senhora, o pequeno não sabe o que é plebiscito!
22. – Não admira que ele não saiba, porque eu também não sei.
23. – Que me diz?! Pois a senhora não sabe o que é plebiscito?
24. – Nem eu, nem você: aqui em casa ninguém sabe o que é plebiscito.
25. – Ninguém, alto lá! Creio que tenho dado provas de não ser nenhum ignorante!
26. – A sua cara não me engana. Você é muito prosa. Vamos: se sabe, diga o que é plebiscito! Então? A gente está esperando! Diga!…
27. – A senhora o que quer é enfezar-me!
28. – Mas, homem de Deus, para que você não há de confessar que não sabe? Não é nenhuma vergonha ignorar qualquer palavra. Já outro dia foi a mesma coisa quando Manduca lhe perguntou o que era proletário.Você falou, falou, e o menino ficou sem saber!
29. – Proletário, acudiu o senhor Rodrigues, é o cidadão pobre que vive do trabalho mal remunerado.
30. – Sim, agora sabe porque foi ao dicionário: mas dou-lhe um doce, se me disser o que é plebiscito sem se arredar dessa cadeira!
31. – Que gostinho tem a senhora em tornar-me ridículo na presença destas crianças!
32. – Oh! Ridículo é você mesmo quem se faz. Seria tão simples dizer: - Não sei Manduca, não sei o que é plebiscito, vai buscar o dicionário, meu filho.
33. O senhor Rodrigues ergue-se de um ímpeto e brada:
34. – Mas se eu sei!
35. – Pois se sabe, diga!
36. – Não digo para não me humilhar diante de meus filhos! Não dou o braço a torcer! Quero conservar a força moral que devo ter nesta casa! Vá para o diabo!
37. E o senhor Rodrigues, exasperadíssimo, nervoso, deixa a sala de jantar e vai para o quarto, batendo violentamente a porta.
38. No quarto havia o que ele mais precisava naquela ocasião: algumas gotas de água de flor de laranja e um dicionário…
39. A menina toma a palavra:
40. – Coitado do papai! Zangou-se logo depois do jantar! Dizem que é perigoso!
41. – Não fosse tolo, observa dona Bernardina, e confessasse francamente que não sabia o que é plebiscito!
42. – Pois sim, acode o Manduca, muito pesaroso por ter sido o causador involutário de toda aquela discussão: pois sim, mamãe, chame papai e façam as pazes.
43. – Sim! sim! façam as pazes! Diz a menina em tom meigo e suplicante. Que tolice! Duas pessoas que se estimam tanto zangarem-se por causa do plebiscito!
44. Dona Bernardina dá um beijo na filha e vai bater à porta do quarto:
45. – Seu Rodrigues, venha sentar-se; não vale a pena zangar-se por tão pouco.
46. O negociante esperava a deixa. A porta abre-se imediatamente. Ele entra, atravessa a casa e vai sentar-se na cadeira de balanço.
47. – É boa! brada o senhor Rodrigues depois de largo silêncio; é muito boa! Eu! Eu ignorar a significação da palavra PLEBISCITO! Eu!…
48. A mulher e os filhos aproximam-se dele.
49. O homem continua num tom profundamente dogmático.
50. – Plebiscito…
51. E olha para todos os lados a ver se há por ali mais alguém que possa aproveitar a lição.
52. – Plebiscito é uma lei decretada pelo povo romano, estabelecida em comícios.
53. – Ah! Suspiraram todos aliviados.
54. – Uma lei romana, percebem? E querem introduzir no Brasil! É mais um estrangeirismo!…

Marque com um X o sinônimo da palavra ou expressão sublinhada.
1. Em: “… lê com muita atenção uma das nossas folhas diárias.” (par. 5), a expressão em negrito significa:
a. ( ) jornais b. ( ) trabalhos escolares c. ( ) papeis d. ( ) contas da família

2. A frase: “O senhor Rodrigues não tem remédio senão abrir os olhos.” (par. 16), pode ser entendida como “O senhor Rodrigues…
a. ( ) não encontra alívio para o seu sofrimento.
b. ( ) não tem outra solução a não ser abrir os olhos.
c. ( ) não tem jeito para abrir os olhos.
d. ( ) só encontrou um medicamento para o seu mal

3. Em: “Não admira que ele não saiba…” (par. 22), a expressão em negrito pode ser entendida como:
a. ( ) é admirável b. ( ) não causa espanto c. ( ) não se admite d. ( ) é incompreensível

4. Em: “Você é muito prosa.” (par. 26) a palavra em negrito significa:
a. ( ) vaidoso b. ( ) sábio c. ( ) estudioso d. ( ) falador

5. Em: “Sim, agora sabe porque foi ao dicionário…” (par. 30), a expressão em negrito pode ser entendida como:
a. ( ) comprou um dicionário    b. ( ) encontrou um dicionário
c. ( ) consultou o dicionário     d. ( ) pegou um dicionário

6. A frase: “Não dou o braço a torcer!” (par. 36) pode ser entendida como:
a. ( ) Não gosto de brigar com quem é mais forte do que eu.
b. ( ) Não gosto de discutir sem ter razão.
c. ( ) Não gosto de sofrer dores.
d. ( ) Não me dou por vencido.

7. A frase: “A menina toma a palavra.” (par. 39) pode ser entendida como: A menina…
a. ( ) …pensa no que irá falar. b. ( ) …encontra uma solução.
c. ( ) …começa a falar. d. ( ) …para de pensar.

8. Em: “Pois sim, acode Manduca, muito pesaroso por ter sido o causador involutário de toda aquela discussão…” (par. 42) a palavra em negrito significa que Manduca:
a. ( ) causou a discussão de propósito b. ( ) estava acostumado a causar discussões
c. ( ) não teve a intenção de causar a discussão d. ( ) nunca conseguia causar uma discussão

9. Na frase: “O negociante esperava a deixa.” (par. 46) a expressão em negrito significa que o negociante esperava que:
a. ( ) esquecessem o incidente b. ( ) o chamassem de volta
c. ( ) o deixassem em paz d. ( ) não lhe fizessem mais perguntas

Responda às perguntas comprovando suas respostas com passagens do texto.
10. Quando e onde se passa o episódio?_________________________________________________

11. Os personagens do texto são: o senhor Rodrigues, Dona Bernardina, Manduca e a menina. Que relação de parentesco há entre eles? ______________________________________________________________________
12. No século XIX, era hábito os esposos se tratarem formalmente como senhor e senhora, em sinal de respeito. Como a história que acabamos de ler se passa em 1890, podemos observar que Dona Bernardina trata o marido de senhor e que o senhor Rodrigues trata a esposa de senhora. No entanto, há momentos em que Dona Bernardina, esquece essa formalidade e trata o marido de você. Quando isso acontece?_____________________________________________________________

13. Manduca não sabe o significado da palavra plebiscito e pergunta ao pai, que parece se admirar do fato do menino desconhecer tal palavra. Dona Bernardina, porém, afirma que ninguém naquela casa – nem o próprio senhor Rodrigues – sabe o seu significado. No texto, lemos que o senhor Rodrigues reclama: “Ninguém, alto lá! Creio que tenho dado provas de não ser nenhum ignorante!” (par. 25). Quem está certo e por quê? _______________________________________________________

14. Diante da pergunta do filho, quais as reações do Senhor Rodrigues?
Primeira reação: _______________________________________________
Depois: ______________________________________________________

15. No auge da discussão, o senhor Rodrigues retira-se para o quarto, onde, “havia o que ele mais precisava naquela ocasião: algumas gotas de água de flor de laranja e um dicionário.”(par. 38). Por que o senhor Rodrigues precisava dessas duas coisas? ______________________________________________________________________

16. Afirmamos que o senhor Rodrigues não soube consultar o dicionário. Você concorda com nossa afirmação? Justifique sua resposta.
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 RESPOSTAS:

1.a   2.b    3.b    4.a    5.c     6.d      7.c      8.c      9.b

10. O episódio passa-se em 1980, após o jantar, na casa do senhor Rodrigues. (par. 1 e 2)

11. O senhor Rodrigues é marido de dona Bernardina e Manduca e a menina são filhos do casal. (Par. 4, 5, 8, 40)

12. Quando dona Bernardina discute com o marido, trata-o por você, esquecendo a formalidade. (par. 28)

13. Dona Bernardina é quem está certa, pois o senhor Rodrigues, apesar de negar que desconhece o significado da palavra plebiscito, vai mesmo é procurar ajuda num dicionário. (par. 38)

14. Primeira reação:  finge dormir, para não ter que dar uma resposta ao filho. (par. 9)
Depois: não tendo mais como continuar fingindo, recrimina o filho por desconhecer o significado da palavra (par. 19)

15. O senhor Rodrigues precisava de algumas gotas de água de flor de laranja porque esse remédio caseiro, usado geralmente como calmante, poderia dar-lhe a tranquilidade de que necessitava naquela ocasião. Por outro lado, ele precisava do dicionário para procurar o significado da palavra plebiscito.

16. No dicionário encontramos que:
Plebiscito. Do latim plebiscitu. S. m. 1. Na Roma antiga, decreto do povo reunido em comícios. 2. Hoje, resolução submetida à apreciação do povo. 3. Voto do povo, por sim ou não, sobre uma proposta que lhe seja apresentada.










O senhor Rodrigues, ao consultar o dicionário, verificou que plebiscito é uma lei romana e não compreendeu exatamente o que isso significa nos tempo de hoje. Por isso acusou-a de ser um estrangeirismo que queriam implantar no Brasil. Isso confirma o que dissemos: o senhor Rodrigues não soube consultar o dicionário.


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